segunda-feira, 27 de julho de 2009

Pedaços

Aquela notícia me quebrou em mil pedaços. Muito dos quais ficaram por lá. Dos poucos que pude trazer apenas alguns me foram úteis. Não foram suficientes. O espaço, o vazio era enorme. Precisava dos demais pedaços para me sentir completo
Perdi-me vivendo em erros e então vieste a mim. Assustei-me, logo passou. Conversamos, sorrimos e a medida que nos relacionávamos me sentia cada vez mais "eu". Teu bálsamo me embriagava. Finalmente pude entender tudo: tens exatamente todos os pedaços que me faltam. Feliz, afoito e inocente corri em tua direção e te pedi para compartilhar teus pedaços comigo...
Depois do "não" que vi em teus olhos não me lembro de mais nada. Percebi que teus pedaços não completavam apenas a mim e me conformei com o pouco que pudeste me dar

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Perfume

Finalmente conseguiu: a rosa que tanto cativou, cuidou e regou, finalmente brotou. Suas pétalas lisas e macias, que eram um pouco manchadas, deixavam-na ainda mais bela. E eram tão brancas que davam ao dourado dos raios de sol um amarelo especial. Seu perfume... ah, seu perfume... era o que ele mais gostava, todo o cansaço ia embora quando sentia aquele aroma.
Sentiu-se orgulhoso e ao mesmo tempo frustrado. Lembrou-se de quando achou a semente no hospital; de quando arou aquele enorme terreno (sim, ela precisava de muito espaço, pois era especial!); do tempo em que perdeu dando-lhe atenção; de quantas ervas daninhas teve que arrancar.

"Será que valeu mesmo a pena?"

Sim, ela era grato a ele, fazia-lhe companhia, às vezes e deixava-lhe sentir seu olor... mas ele queria mais, queria a mesma dedicação e amor que havia dado a sua rosa.

"Não seria pedir demais a uma flor?"

Sim... era o que ele achava... essas coisas não se pedem, principalmente a uma flor. Talvez, com um pouco mais de adubo e de terreno (e tempo...), ele conseguisse. Mas estava cansado, havia despertado a inveja de outros jardineiros e perdido a amizade de tantos outros. "Você só se dedica a essa rosa?";"Pára de perder tempo";"Eu não gosto desse jardineiro". Sem falar nas outras plantas que havia deixado morrer.

Fitava-a com ternura, e era tão linda, tão cativante, tão especial, tão cheirosa, tão... tão...

Se fosse preciso, faria tudo de novo. Tudo para poder sentir, ao menos, sua fragrância...

sexta-feira, 10 de julho de 2009

?

Não sabia ao certo, aliás, não sabia, como tudo havia ocorrido até então. Foi rápido e intenso. Já pensava nessas coisas, nunca com tanta frequência, nem tão pouco com tanta consciência. Se existia algo que odiava, era agir de forma inconsciente. Claro, não dá para se agir de forma consciente o tempo todo, mas, sempre que possível, tentaria.
Pensou nas possibilidades, coincidências, fatos. Formulou teses e
até mesmo respostas, quase sempre, equivocadas.
No fim, conseguiu apenas fazer-se duas perguntas:
"Seria a vida uma grande paciência com todas as cartas já marcadas? Poder-se-ia escolher, ao menos, onde por as cartas reveladas?" "Ou seria a vida um dado gigante de infinitas faces, cujos eventos são tão aleatórios quanto o próprio experimento: jogar o dado?"

Qualquer uma das conclusões não seria surpresa. Viver é uma surpresa, e poucos se dão conta disso.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Ás de copas

Metódico e extremamente pontual, não perdia tempo com nada. Tudo era milimetricamente calculado e executado com precisão. Odiava surpresas e coincidências. Conversas, poucas. Raramente expunha seus pensamentos. Guardava teorias. Não sorria. Não gostava de humor e tão pouco de leitura. E não sentia falta de nada nem de ninguém. Chato, anacrônico e ultrapassado. Seu coração, que mais parecia um iceberg, estava envolto em uma muralha de concreto.

Até que a conheceu. Fulminantemente e sem perceber, passou a gostar dela, e mais que isso: da sua companhia cativante, dos seus cabelos dourados, do seu perfume suave, dos seus olhos miúdos, da sua boca risonha, da sua voz de veludo...

As horas passam a ser marcadas pelo horário dela. O tempo, antes nunca perdido, é calculado para que o máximo seja passando com ela. Passou a ver coincidêcias em tudo e criar surpresas para agradá-la. Conversas, muitas, e todas, com ela. Seus pensamentos fluem como um rio de planície. Expõe suas teorias só para ouvi-la chamá-lo de maluco. Adora sorrir e principalmente vê-la sorrir. Ri das piadas dela e lê inúmeros livros (todos recomendados por ela). Sente falta dos momentos e dela... Chato, anacrônico e ultrapassado. Seu coração, que mais parecia um iceberg, derreteu, e a muralha cedeu.

Era tarde demais para se arrepender